27 dezembro 2008

Deixem os vivos enterrar os seus mortos



Desde o dia em que nascemos que lidamos com perdas, com a finidade das coisas.
Desde o dia em que nascemos que deveríamos estar preparados para a morte.
Mas não estamos.
Nunca estamos.
E o correr dos nossos dias vai somando mortos à nossa vida.
Uns morreram.
Outros estão vivos, mas mortos para nós.
A uns diremos Thalita Kum.
A outros poremos uma pedra em cima.
Quer uns quer outros vão levando pedaços da nossa vida com eles, vão-nos deixando menos vivos e mais mortos, até estarmos mortos de vez.

Hoje enterrei o meu morto.
Pus mais uma pá de terra.
Pus-lhe uma pedra em cima.
Nunca mais lá voltarei.
O meu morto não terá flores.
O meu morto não terá visitas.
O meu morto terá apenas o meu dolorido luto.

Hoje comecei a prantear o meu morto.
Muitos dias virão para o prantear.
Até ao dia em que não haja mais nada para lamentar ou sentir falta.
Até ao dia em que outros vivos vão entrar pela minha vida dentro, mesmo com a alta probabilidade de se tornarem os meus mortos.

Desde o dia em que nascemos que lidamos com perdas, com a finidade das coisas.
Desde o dia em que nascemos que deveríamos estar preparados para a morte.
Mas não estamos.
Nunca estamos.

crying_____by_miieze @ deviantArt

23 Setembro 2008

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