17 novembro 2008

Deitada na minha cama

Deitada na minha cama, pernas esticadas, mãos cruzadas sobre a dobra do lençol, fixo os olhos na luz azulada que o telemóvel projecta no tecto, único clarão naquele espaço mergulhado em penumbra.

A minha mão direita levanta-se e brinca.
No tecto, há outra mão que se agita, que se move e torce e imita coisas, uma mão que é minha tão longe de mim.

Uma voz do outro lado do telefone.
A minha mão não sossega.
Aquele mesmo quarto, aquele mesmo telefone, aquela mesma posição.
Outros dias, outras conversas.
A minha mente vagueia no tempo, em sucessivos avanços e recuos.

Onde estou eu?

Choro?
Não, não choro.
Há um fio de água que escorre lentamente de cada lado do meu rosto, de uma nascente que desconheço.
Já o sinto correr no pescoço, ensopando a almofada.
Mas eu não choro, chorar não é uma opção.
Aquela água não é daqui, não é deste tempo, vem de trás, é do futuro.
Choro.

A voz continua a falar.
A mão continua num frenesim.

Que dia é hoje?

Tudo pára.
A luz desliga-se.
A mão gelou, já não mexe.
A voz calou-se.
Aquela água persiste em correr.

Os meus olhos fixam o tecto.

Que horas são?

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